Filme de abertura do 70º Festival de Veneza, Gravidade (Gravity, Estados Unidos/Reino Unido, 2013), de Alfonso
Cuarón, leva o espectador ao espaço com tamanha eficiência que a experiência de
assisti-lo é angustiante e única. Ao mesmo tempo em que vai tão longe, porém, ele
acaba falando de temas muito próximos. O roteiro, assinado pelo cineasta
mexicano e seu filho Jonás, de 31 anos, logo apresenta as condições fora da
Terra.
Estes dados, aparentemente didáticos, são trabalhados com cuidado ao
longo da história que começa com a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock), engenheira
biomédica em sua primeira missão, tentando consertar o telescópio Hubble. Enquanto
ela luta contra seus próprios limites físicos, o comandante do ônibus espacial
Explorer, o veterano Matt Kowalski (George Clooney), parece estar dando uma
volta no parque. Tudo vai bem até que os restos de um satélite destruído os
atingem e Stone se vê à deriva no espaço.
Se no apocalíptico Filhos da
Esperança Alfonso Cuarón criou grandes planos-sequência, em Gravidade ele é ainda mais ousado.
Aparentemente sem cortes, os 15 minutos iniciais são conduzidos com precisão,
assim como o restante do filme com maestria. Difícil não se prender na poltrona
com a situação que se torna tensa a cada segundo. Ao passar com a câmera pelo
vidro do capacete de Stone, não se conhece apenas seu ponto de vista que é de
tirar o fôlego, como também se aproxima de seu lado emocional e mais pessoal.
O diretor não perde o foco de sua protagonista e não deixa de mostrar sua
pequenez diante da imensidão do espaço, da Terra e até das estações espaciais. Se
Gravidade tem momentos existenciais,
estes são demonstrados principalmente através das imagens. Ao lado do diretor
de fotografia Emmanuel Lubezki, Cuarón cria planos belos e contemplativos, como
em uma cena em que a engenheira fica em posição fetal. E a luz não só dá mais realismo
às cenas, como também dá significado às situações.
Alfonso Cuarón dirige Sandra Bullock e George Clooney em Gravidade. Reprodução
O papel de Ryan Stone foi escrito com Angelina Jolie em mente. Após sua
recusa, ele foi oferecido a Natalie Portman que também não topou.
Foi então que entrou Sandra Bullock e ela entrega um dos melhores desempenhos
de sua carreira. Coberta pelo traje espacial inicialmente, a atriz se apoia nas
sutilezas e na respiração. A escolha de um rosto conhecido é importante para
que o público possa se conectar de imediato com a protagonista e,
consequentemente, se envolver com seu drama. O mesmo ocorre com George Clooney
que passa credibilidade como Kowalski. Ele entrou para o elenco após Robert Downey Jr. ter que deixar a produção para fazer Os Vingadores.
Para não ter efeitos especiais convencionais, novas tecnologias foram
criadas e o resultado é espetacular. Eles ajudam a contar a história e não se
sobressaem a ela. Assim como o som que muitas vezes dá lugar ao silêncio. A
trilha sonora de Steven Price é outro elemento que é bem trabalhado na
construção da tensão. Gravidade entra
também para o pequeno time de filmes – que inclui Avatar, A Invenção de Hugo
Cabret e As Aventuras de Pi – que
souberam tirar o melhor proveito do formato 3D.
Inicialmente programado para novembro de 2012, o longa de 90 minutos de
duração teve seu lançamento adiado praticamente em um ano por uma decisão do
estúdio de não querer concorrer nas bilheterias e nas premiações com os filmes
que seriam lançados naquele período. A estratégia parece ter sido acertada.
Elogiado por grande parte da crítica e estreando nos cinemas
norte-americanos na semana passada com uma forte arrecadação de US$ 55,7
milhões, suas chances de brilhar na próxima temporada de prêmios são enormes. Um
dos melhores filmes espaciais já feitos, Gravidade
definitivamente merece estar na lista dos melhores filmes de 2013.
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