sexta-feira, 11 de outubro de 2013

OPINIÃO: Gravidade

  
Filme de abertura do 70º Festival de Veneza, Gravidade (Gravity, Estados Unidos/Reino Unido, 2013), de Alfonso Cuarón, leva o espectador ao espaço com tamanha eficiência que a experiência de assisti-lo é angustiante e única. Ao mesmo tempo em que vai tão longe, porém, ele acaba falando de temas muito próximos. O roteiro, assinado pelo cineasta mexicano e seu filho Jonás, de 31 anos, logo apresenta as condições fora da Terra.
Estes dados, aparentemente didáticos, são trabalhados com cuidado ao longo da história que começa com a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock), engenheira biomédica em sua primeira missão, tentando consertar o telescópio Hubble. Enquanto ela luta contra seus próprios limites físicos, o comandante do ônibus espacial Explorer, o veterano Matt Kowalski (George Clooney), parece estar dando uma volta no parque. Tudo vai bem até que os restos de um satélite destruído os atingem e Stone se vê à deriva no espaço.

  
Se no apocalíptico Filhos da Esperança Alfonso Cuarón criou grandes planos-sequência, em Gravidade ele é ainda mais ousado. Aparentemente sem cortes, os 15 minutos iniciais são conduzidos com precisão, assim como o restante do filme com maestria. Difícil não se prender na poltrona com a situação que se torna tensa a cada segundo. Ao passar com a câmera pelo vidro do capacete de Stone, não se conhece apenas seu ponto de vista que é de tirar o fôlego, como também se aproxima de seu lado emocional e mais pessoal.
O diretor não perde o foco de sua protagonista e não deixa de mostrar sua pequenez diante da imensidão do espaço, da Terra e até das estações espaciais. Se Gravidade tem momentos existenciais, estes são demonstrados principalmente através das imagens. Ao lado do diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, Cuarón cria planos belos e contemplativos, como em uma cena em que a engenheira fica em posição fetal. E a luz não só dá mais realismo às cenas, como também dá significado às situações.

Alfonso Cuarón dirige Sandra Bullock e George Clooney em Gravidade. Reprodução

O papel de Ryan Stone foi escrito com Angelina Jolie em mente. Após sua recusa, ele foi oferecido a Natalie Portman que também não topou. Foi então que entrou Sandra Bullock e ela entrega um dos melhores desempenhos de sua carreira. Coberta pelo traje espacial inicialmente, a atriz se apoia nas sutilezas e na respiração. A escolha de um rosto conhecido é importante para que o público possa se conectar de imediato com a protagonista e, consequentemente, se envolver com seu drama. O mesmo ocorre com George Clooney que passa credibilidade como Kowalski. Ele entrou para o elenco após Robert Downey Jr. ter que deixar a produção para fazer Os Vingadores.
Para não ter efeitos especiais convencionais, novas tecnologias foram criadas e o resultado é espetacular. Eles ajudam a contar a história e não se sobressaem a ela. Assim como o som que muitas vezes dá lugar ao silêncio. A trilha sonora de Steven Price é outro elemento que é bem trabalhado na construção da tensão. Gravidade entra também para o pequeno time de filmes – que inclui Avatar, A Invenção de Hugo Cabret e As Aventuras de Pi – que souberam tirar o melhor proveito do formato 3D.

  
Inicialmente programado para novembro de 2012, o longa de 90 minutos de duração teve seu lançamento adiado praticamente em um ano por uma decisão do estúdio de não querer concorrer nas bilheterias e nas premiações com os filmes que seriam lançados naquele período. A estratégia parece ter sido acertada.
Elogiado por grande parte da crítica e estreando nos cinemas norte-americanos na semana passada com uma forte arrecadação de US$ 55,7 milhões, suas chances de brilhar na próxima temporada de prêmios são enormes. Um dos melhores filmes espaciais já feitos, Gravidade definitivamente merece estar na lista dos melhores filmes de 2013.

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